Autoconhecimento e autoestima: entregamos mesmo estes resultados?
Colega consultora, chega mais para gente prosear um tico.
Gostaria conversar um pouco sobre duas palavras que aparecem frequentemente nos posts como se
fossem resultantes do trabalho de consultoria de imagem: autoconhecimento e autoestima. A minha intenção aqui é refletir sobre o significado delas contribuindo para um discurso claro – e responsável – sobre o que realmente tem a ver com o resultado do nosso trabalho. Reconheço que é um assunto controverso, mas chega um momento que a gente precisa colocar o dedo na ferida para bagunçar um pouco os nossos arquivos guardados na cuca.
Pergunto: a Consultoria de Imagem e Estilo entrega realmente esses “produtos”/resultados? Como mensurá-los? Como faz para termos certeza de que realmente atingimos esse objetivo?
Compreendo que o nosso atendimento não é um processo que conduziria ao conhecimento profundo de si e, tampouco, resolveria questões de baixa autoestima. Podemos participar desse processo de maneira indireta? Acredito que sim. Porém não há como termos certeza disso.
O nosso serviço pode ser requisitado partindo da vontade da pessoa contratante de conhecer os
próprios gostos e/ou se sentir mais bonita, que envolve um bem-estar consigo mesma. Estas
necessidades estão longe de definir profundamente as duas palavrinhas em questão. Ou seja,
conhecer os próprios gostos não abarca o processo de autoconhecimento, e se sentir bonita e/ou ter
uma sensação de bem-estar, pode não significar melhoria na autoestima.
São duas palavras que falam de processos muito profundos, delicados e fluidos que são influenciados por inúmeras
questões internas e externas. O que dizer dos padrões de corpos, de beleza, de aparência, de modos de vestir impostos diariamente por todos os canais de mídia, que nos apontam massivamente que ainda falta muito para a gente se adequar a eles? Logo, vejo como um terreno muito instável para a gente caminhar e colocar como um produto dos nossos serviços. Ou seja, não temos garantias do sucesso, colega!
A consultoria de imagem e estilo possui as suas ferramentas, as suas técnicas e muito conteúdo sendo produzido a respeito, mas a sua proposta não é conduzir ao autoconhecimento e nem resolver questões relacionadas à autoestima (deixemos esta questão para os profissionais de saúde mental). Sabemos que a parte que nos cabe – e que não é nada banal – é ajudar a pessoa a se conscientizar dos seus gostos e desgostos pessoais, ter clareza dos seus desejos de imagem, aprender a ser mais assertiva em suas compras, aprender a utilizar as peças de roupas de modo que a ajude a se expressar conforme a vontade. Um valioso conjunto de benefícios, uma vez que iremos nos vestir por toda a vida, e fazer isso com mais facilidade traz ganhos importantes.
O nosso trabalho precisa abordar criticamente a imposição dos padrões de beleza – ao contrário de pregá-los ou colocá-los como fim para o processo e seus consequentes benefícios – para que eles sejam esclarecidos, discutidos e rompidos, em uma espiral constante. Isso pode ser transformador e proporciona a construção de um conhecimento do quanto somos massacradas pela indústria da moda que é sempre pouco ou nada empática com a diversidade.
Tá vendo como tem muito a se falar sobre o que é possível entregar sem condensar tudo em uma única palavra, que pode ser tão profunda e vazia ao mesmo tempo?
Profissionais de Consultoria de Imagem auxiliam as pessoas em suas experiências com as roupas, com os códigos de vestimenta e suas simbologias e transformações, com os seus desejos relacionados à aparência, colaborando para sejam alcançados de forma clara, objetiva e responsável. Paralelamente o nosso trabalho pode mitigar, ou até mesmo diluir, o peso da influência dos padrões de beleza nas nossas escolhas e no nosso (bem) estar no mundo.
Texto de Patrícia Marcele. Psicóloga por formação e consultora de imagem e estilo por opção e coração. Dona do próprio destino. Especialista em looks infinitos e infinitamente especiais. Aluna e praticante do Liberta, o método de Consultoria de Imagem Responsável ensinado na nossa Butique de Cursos. Membra do Libertinas, nosso Clube de Aulas e Supervisão para Consultoras de Imagem.
6 Comments
Obrigada pelo texto Patrícia! Importantíssima reflexão. Endosso o seu coro sobre a relevante tarefa de questionar e criticar os padrões de beleza, trazendo a ideia de que esses padrões só fazem a gente se distanciar de nós mesmas. Eles nos desumanizam e, por vezes, podem fazer a gente se perder das nossas próprias referências (o que é e deve ser guia para o encontro do nosso bem estar no mundo).
Fica o meu abraço como forma de agradecimento (:
Que delícia ler seu comentário aqui, Nicolle! Obrigada por colaborar com essa conversa 🙂
Obrigada, Nicole ♥️
Uow! Que texto necessário, Pati!
A gente vê tanto esses termos como promessas da consultoria que até se deixa levar e acredita nisso! Que autoconhecimento está relacionamento somente ao vestir ou que transtornos de autoestima são curados com um look bem planejado.
A consultoria de imagem tem muitos atrativos reais, não precisamos (e nem devemos!!) maquiá-los.
Obrigada por essa reflexão. Um grande beijo!!
Obrigada por estar aqui e refletir com a gente, Dani querida!
Adorei o texto Patrícia!!! Estou finalizando o curso de formação e estou encantada com todo esse rico universo da consultoria de imagem que se abriu. Com tanto conteúdo pra ser trabalhado, autoestima e autoconhecimento tornam-se conceitos rasos para trabalhar, e perigosos!